sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Filosofia para todos

Escola de Atenas, de Rafael
Desde que comecei os meus estudos em Filosofia, sempre acreditei que os escritos deveriam ser simplificados para que todos pudessem ter acesso e, assim, interessar-se pelos pensadores. Minha ideia nunca foi muito bem aceita entre os acadêmicos e lembro-me que tinha muita dificuldade em ter uma nota mais do que sete com um dos meus professores – por sinal, um dos que eu mais gostava. Uma dessas vezes foi em relação a um trabalho sobre Sócrates. E quando eu o questionei o porquê daquela nota, ele me respondeu: “porque você tem uma ideia completamente diferente da que eu apresentei”. Foi quando eu retruquei: “Achei que estávamos em uma Faculdade de Filosofia e não de matemática”.


Hannah Arendt
Mas, depois de muitos estudos, eu compreendi o que esse professor quis dizer. Realmente, podemos – e devemos – ter as nossas opiniões sobre os pensadores, mas a essência de sua filosofia não pode ser alterada; claro que pode ser reinterpretada, mas para isso é preciso muito estudo. Passei por outro momento no qual essa minha constante ideia de transformar os escritos mais simples não foi entendida. Escrevi um extenso trabalho sobre A Segunda Guerra Mundial, no qual abordei alguns pensadores da época, entre eles, a excepcional Hannah Arendt. Li muito e recebi um 9,5 e uma explicação sobre não ter recebido um 10. “O seu texto é muito fácil de ler, muito jornalístico”.

Oh deuses gregos, como não seria jornalístico, se eu sou jornalista!!

Outra ideia não muito compartilhada pelos meus amigos acadêmicos: sempre achei que a Filosofia só tem sentido se ela puder ser praticada, e ainda continuo pensando assim. Mas para tal, é preciso conhecer muitos conceitos para saber qual o pensamento filosófico melhor se aplica a cada um. Muitas obras já foram escritas para despertar o interesse de muitos para um conhecimento desenvolvido para poucos. “O Mundo de Sofia”, de Jostein Gaarder, é uma dessas tentativas e, com certeza, muitos começaram a se apaixonar por filosofia após conhecer a personagem e acompanhá-la em suas descobertas. Diferentemente do que dizem, considero a obra bastante complexa e, apesar dos exemplos interessantes, ainda assim é uma obra para poucos.

Anos depois, chegou “Quando Nietzsche Chorou”, o primeiro romance do psicoterapeuta e professor Irvin D. Yalom. Um sucesso de vendas. Um texto leve, de fácil leitura. Mas conheci pessoas que não o leram porque consideravam Nietzsche muito difícil. Por ser uma conhecedora das obras do filósofo, tenho minhas ressalvas em relação a alguns itens, mas, mesmo assim, é possível conhecer um pouco do pensamento desse brilhante pensador.
O mesmo autor lançou também “A Cura de Schopenhauer” – que diferentemente do primeiro, não traz o pensador como personagem, mas a sua filosofia; e depois “O Problema de Espinosa”, talvez o mais interessante dos três.

Mas a minha dica para quem deseja se aproximar um pouco da Filosofia – em minha opinião um mundo fantástico e de possibilidades de descobertas incríveis -, eu recomendo um livro pouco ortodoxo e, com certeza, muito criticado pela academia. 


Nigel Warburton é o autor; não o conhecia e suas referências não me despertaram grande interesse. No entanto, “devorei” o pocket “Uma breve história da Filosofia”. Warburton, que é professor titular de filosofia na The Open University (UK), faz um passeio pelos mais importantes pensadores. São capítulos curtos. Em alguns deles senti certo preconceito do autor com o pensador, mas ele apresenta de forma simples o cerne da filosofia de cada um, contando histórias sobre os mesmos. Outra crítica à obra é que o autor deixa de fora alguns pensadores que considero importantes, como Foucault e Martin Heidegger. 

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